O sector energético, com importantes projectos em lançamento envolvendo empresas chinesas, oferece a Moçambique as melhores perspectivas para ultrapassar o período económico adverso que atravessa, de acordo com analistas.
Um dos projectos recentemente lançados é o da construção de uma central eléctrica a carvão, envolvendo a Shanghai Electric Power e a Ncondezi Energy, num investimento de 25,5 milhões de dólares na província de Tete, para onde está já planeada uma outra termoeléctrica, projecto envolvendo os governos de Moçambique e da Zâmbia.
No seu mais recente relatório sobre Moçambique, a agência de notação de risco Standard & Poor´s alerta para as actuais dificuldades económicas e financeiras, estimando um crescimento do PIB real de apenas 4% este ano, um dos mais baixos das últimas décadas, mas prevê que acelere para 6% em 2017 e 7% em 2018, com investimentos no sector do gás em alta, juntamente com investimentos em redes de energia e transportes.
A construção da maior parte das linhas de caminho-de-ferro que ligam os portos do centro e norte do país a novos depósitos de carvão deve sustentar o aumento da produção carbonífera em 2016/2019, ”desde que os preços internacionais do carvão recuperem dos baixos níveis actuais”, afirma.
Mais importante ainda, a S&P crê que o governo e parceiros estrangeiros (para a exploração das reservas de gás natural liquefeito, ENI e Anadarko Petroleum) vão concluir as negociações sobre o quadro do investimento este ano” permitindo o início da construção de instalações em 2017/2018.
Para a Economist Intelligence Unit, o investimento estrangeiro manter-se-á reduzido a curto prazo, mas deverá recuperar lentamente para lá de 2017”, se o governo “tomar medidas suficientes para restabelecer o programa do FMI, o que “será um sinal crucial para os investidores de que as autoridades estão a responder à crise económica.”
A privatização de activos deverá “atrair algum investimento, enquanto a aplicação de capitais na indústria do gás poderá recuperar a médio prazo”, adianta, mas, “perante a procura global lenta das principais exportações de Moçambique, não haverá promessa de retornos elevados para atrair investidores, tendo o governo de acelerar esforços para melhorar o clima de negócios.”
A China deverá assumir-se como um dos principais clientes do gás natural de Moçambique, onde já tem estado a assegurar a sua presença, tendo a China National Offshore Oil Corp obtido o primeiro contracto de longo prazo, prevendo a compra anual de entre 2 milhões e 2,5 milhões de toneladas de gás, um quarto da capacidade de produção da primeira unidade de liquefacção associada à Área 1 da bacia do Rovuma, cuja exploração é liderada pela Anadarko Petroleum.
O interesse de petrolíferas chinesas no gás natural de Moçambique tinha já resultado na compra pela Sinopec à petrolífera italiana ENI de uma participação de 20% na Área 4, vizinha da explorada pela Anadarko Petroleum, por 4,2 mil milhões de dólares.
Segundo o Standard Bank a exportação de gás natural renderá inicialmente 67 mil milhões de dólares a Moçambique e, com seis unidades de liquefacção em funcionamento, o rendimento aumentará para 212 mil milhões de dólares.
Espera-se nos próximos meses a decisão final de investimento da ENI no projecto de Moçambique, bem como a da Anadarko Petroleum, que deverão envolver a participação também da ExxonMobil e da Qatar Petroleum, segundo noticiou recentemente a Reuters.
A ENI prevê assegurar um financiamento de 11 mil milhões de dólares, vendendo uma participação de 20% no poço “Mamba” à ExxonMobil, negócio que pode representar um encaixe de 1300 milhões de dólares para o fisco moçambicano – o equivalente às dívidas “ocultas”, cuja descoberta resultou no cancelamento de apoio do FMI e de outros parceiros.
Anunciado em Março, o gasoduto de 2600 quilómetros Rovuma/Gauteng terá o estudo de viabilidade a cargo da China Petroleum Pipeline Bureau (grupo China National Petroleum Corp, accionista na Área 4 da bacia do Rovuma) e, uma vez tomada a decisão de investimento, 70% do financiamento estará a cargo de instituições financeiras chinesas.
Para Aubrey Hruby, do Atlantic Council Africa Center, o envolvimento chinês faz com que o projecto seja ganhador para três partes.
“É um ganho para a China porque os empreiteiros chineses ficam com o negócio, é um ganho para a África do Sul e para Moçambique porque asseguram o gás de que precisam e é um ganho para o Zimbabué e para a Zâmbia porque também precisam de energia”, afirmou a analista, citada pela Interfax.
Fonte: Macauhub